Democracia

Atos antidemocráticos geram repercussão na Zona Sul

Políticos e entidades da região repudiam movimento terrorista, e manifestantes se reúnem para defender democracia e pedir investigação dos fatos

Foto: Carlos Queiroz - DP - Centenas de pessoas se reuniram em defesa da democracia no Calçadão, em Pelotas

Por Rafaela Rosa
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Um dia após as invasões do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto, a repercussão continuou em todo o País e também na Zona Sul do Estado. Ontem, a maioria das autoridades da região fez declarações públicas contrárias aos atos golpistas e repudiaram o vandalismo nos prédios públicos. No chafariz da Sete de Setembro, em Pelotas, centenas se reuniram para contestar os movimentos antidemocráticos e pedir pela investigação dos terroristas.

Em Pelotas, após uma reunião, representantes dos três poderes locais emitiram manifestação conjunta contra a tentativa de golpe de Estado. “Trata-se, sem dúvidas, do pior e mais grave - e, por isso mesmo, o mais condenável - ato contra a Democracia e o patrimônio público perpetrado em nosso País após a redemocratização de 1988. Uma página triste, um domingo lamentável, uma mácula em nossa História recente e que, apesar disso, não pode ser esquecida ou minimizada, para que jamais se repita. Reforçamos aqui a nossa total confiança ao processo eleitoral brasileiro, um dos mais avançados do mundo e de total credibilidade, reconhecido e auditado por representantes nacionais e internacionais”, diz trecho do documento assinado pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), pelo presidente da Câmara de Vereadores, César Brisolara, o Cesinha (PSB), e pelo diretor do Foro de Pelotas, Ricardo Hamilton.

Antes disso, ainda no domingo, a prefeita já havia usado as redes sociais para repudiar os atos em Brasília. “Gravíssimo o que ocorre em Brasília. O radicalismo tomou proporções absurdas no Brasil. [...] Não podemos mais aceitar movimentos antidemocráticos como se fossem normais. Punição exemplar aos responsáveis é o que se espera.”

Cesinha também usou seu perfil nas redes para comentar o acontecimento. “É preciso que as instituições de segurança identifiquem cada um desses agressores da nossa democracia. A punição exemplar é urgente e o mínimo que esperamos”, disse em um trecho da publicação. E foi além: “E se fossem pobres e pretos lutando por comida, o tratamento da polícia seria igual?”, questionou em um vídeo.

Em Rio Grande

Fábio Branco (MDB), prefeito de Rio Grande, também criticou a invasão às sedes dos Poderes. “Total repúdio a atos como os que aconteceram em Brasília. São cenas tristes, de invasão e destruição, que em nada combinam com a democracia.” O discurso do presidente do Legislativo rio-grandino, Julio Cesar Pereira da Silva (MDB), no entanto, foi menos contundente. “Entendo a indignação que está dentro do coração do povo brasileiro. Eu sinto a mesma dor! Mas não podemos ajudar a narrativa dos comunistas. Por isso defendo a residência conservadora”.

Representantes do Congresso

Daniel Trzeciak (PSDB), deputado federal com reduto eleitoral em Pelotas, disse: “Triste ver o Brasil vivendo cenas de terror, onde uma parcela da população não respeita o resultado das urnas. Invadir órgão públicos e quebrar o patrimônio são atos de criminosos, não de patriotas.”

O rio-grandino Alexandre Lindenmeyer (PT), eleito para primeiro mandato, também manifestou repúdio. “Inadmissíveis os atos terroristas que ameaçam a nossa democracia. São necessárias medidas imediatas para restabelecer a ordem, e investigações que revelem os proponentes das ações e a possível leniência das forças de segurança do DF. A democracia precisa vencer.”

Entidades

Através de nota, a Azonasul repudiou as invasões. “Os prefeitos acreditam que a liberdade constitucional para a manifestação de pensamento não pode ser transformada em um aparato para o ataque às instituições públicas com depredações e prejuízos ao patrimônio. A Azonasul entende que instituições públicas são vitais para a manutenção do Estado Democrático de Direito. [...] Por fim, a entidade reafirma seu posicionamento em não aceitar, não tolerar e não admitir o ataque à democracia”, divulgou a entidade em nota pública.

A Aliança Pelotas, entidade que representa associações empresariais da cidade, decidiu não se manifestar sobre o caso.

Instituições de Ensino

A Reitoria da UFPel também emitiu nota repudiando os atos e cobrando investigação. “O povo brasileiro foi covardemente atacado em sua soberania por aqueles que, em igual afronta às instituições nacionais, desrespeitam seus valores e o texto constitucional. Os atos de terrorismo devem ser firme e imediatamente rechaçados”, diz o documento.

O IFSul deu o mesmo tom ao texto que tornou público. “Este ataque não ofende apenas ao Estado Democrático de Direito e às instituições constitucionalmente designadas para defendê-lo, mas sobretudo é uma agressão à sociedade brasileira em todas as suas pluralidades e diversidades”.

A Universidade Católica de Pelotas (UCPel) não se manifestou.


Ato em Pelotas

Sob gritos de “sem anistia”, manifestantes se concentraram no Calçadão de Pelotas, acompanhando atos que ocorreram em todo Brasil encabeçados por partidos, movimentos sociais e frentes populares. De acordo com a coordenadora regional da Regional Sul da CUT, Ana Paula Rosa, a manifestação se torna importante para reforçar a democracia. “É uma resposta a tudo que aconteceu ontem [domingo]. Sentimos a democracia ameaçada e nossa questão principal é defender a democracia. E defender a democracia passa por respeitar as urnas”, sustenta.

De férias em Pelotas, a professora de Santa Catarina, Andreza de Oliveira, fez questão de marcar presença e levar as filhas de dez e 6 anos. “Como educadora e militante dos movimentos sociais e do enfretamento da violência contra a mulher, acompanhei uma derrocada de direitos nos últimos quatro anos. Não podemos fingir que nada está acontecendo. Agora grito ‘fora bolsonarismo’”, fala.

Segurança monitorada em Pelotas

A prefeita se reuniu ontem com representantes do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGI-M) para discutir a situação em Pelotas diante dos atos de domingo em Brasília. Conforme a Prefeitura, o governo e as forças de segurança estão atentas para manter a proteção dos cidadãos e da democracia. “Em Pelotas não existe foco de movimentos semelhantes aos que ocorreram na capital federal, mas estaremos vigilantes para proteger a sociedade pelotense, as instituições republicanas e a Constituição. Estamos confiantes de que não será necessária nenhuma ação específica”, afirma Paula.

Participaram da reunião no gabinete da prefeita representantes da Secretaria de Segurança Pública, da coordenadoria Executiva do Pacto Pelotas pela Paz, da Guarda Municipal, dos agentes da Secretaria de Transporte e Trânsito, do Exército Brasileiro, da Brigada Militar com o 4º Batalhão de Polícia, o Comando Regional de Policiamento Ostensivo Sul e o 5° Batalhão de Polícia de Choque, da Susepe, da Polícia Civil, do Consepro, da Polícia Rodoviária Federal, do Corpo de Bombeiros e do Poder Judiciário.

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